Eu nem sei por onde começar isso, afinal, esperei tanto!
Mas vamos lá, digito enquanto penso (ou o contrário, tanto faz).


Ai mano... Estou feliz, segunda feira vou fazer minha matrícula pra Midialogia. O Quarto curso mais concorrido da UNICAMP em 2018. De 1456 candidatos que prestaram, 183 passaram para a segunda fase (12,5%) e apenas 30 (2%) vão cursar... E esse ano consegui ser uma desses 30.

Tento desde 2012, quando me formei. Mês que vem faço 23 anos, muitos dos meus amigos já se formaram, enquanto começo agora. Vou dividir a sala com pessoas que ainda nem fizeram seus 18, que saíram direto do ensino médio e não tem ideia do quão diferente é o valor dessa vaga pra mim por não terem ideia do caminho que percorri.

3 anos de ensino médio medíocres - e infelizmente pagos - seguidos de 4 anos de cursinho. O primeiro ano foi muita areia para o meu caminhãozinho, muita mesmo. O segundo achei que daria conta dessa areia por ter tido uma ideia do volume dela, mas me deixei ser soterrada por ela no final. O terceiro foi um esforço absurdo para conseguir, e talvez eu tivesse conseguido se não fosse uma escapada no freio de mão... bem no final do carregamento. O quarto foi uma baliza com dificuldades (de quando a gente acha que não cabe na vaga, mas tenta e ai cabe) seguida de um carregamento com um sucesso que eu não estava esperando, mas sei que não foi por sorte, mas resultado de esforço.

15/02 - Era o dia da segunda chamada, o qual também sairia a classificação dos candidatos, isto é, numeração das posições de 1º até 183º. Por ter feito uma prova de português/literatura péssima (gastei muito tempo na redação, deixei questões em branco, uma a lápis e não me garantia muito nas outras), já tinha perdido minhas esperanças de uma classificação boa. Tudo que eu estava esperando era que eu conseguisse estar pelo menos entre a galera de 60º a 70º, pra ter aquele último pouquinho de chance de passar nas últimas chamadas.
Eu estava de saída de casa e pedi pra minha irmã olhar minha classificação e me mandar no whatsapp. Eis que 2 minutos depois que saí de casa ela me liga dizendo que eu havia passado. "Você passou!"

Definitivamente eu não esperava isso, na minha cabeça eu tinha cagado todas as minhas chances na prova de português. Mas eu foquei muito durante o ano nas matérias prioritárias e obtive uma puta nota na matéria de maior prioridade, seguida de outra puta nota nas redações e fui muito bem no restante. Minha classificação: 36º. Tô surpresa e estasiada até agora! 

Ao longo de cada ano eu me imaginei passando, me imaginei dando essa notícia para meus pais, para o facebook, para algumas pessoas em especial... Me imaginei atualizando minha capa do facebook, me imaginei sendo pintada pelos veteranos, me imaginei falando com o pessoal que está começando cursinho agora para não desistirem. E agora to realizando isso, eu me vi fazendo isso e estou fazendo. Essas são coisas que motivam várias pessoas que estão na luta por uma vaga, focar em um dia realizar cada uma dessas coisinhas, não apenas ter a vaga. 

Mas vou repetir aqui aquilo que falei no último post. Eu não quero que considerem aprovação sucesso e não-aprovação fracasso. Em quatro anos de cursinho ainda não cheguei perto de fazer uma pontuação que muitos amigos meus tem que conseguir para realizar o sonho deles de serem médicos, por exemplo. Os vi batalhar dia pós dia, arduamente para no fim, uma diferença de 2 pontos dizer que eu obtive sucesso e eles não. Só quem passa por essas coisas sabe como é, sabe a pressão, a dificuldade... E ter de ouvir que a pessoa "só estuda", ou ser comparada com outras que já conseguiram, ou mesmo pessoas sugerindo que você mude seu sonho, corra atrás de algo mais fácil... E viver isso por anos. Anos se acumulam e para muitos a pessoa está colecionando derrotas, não está chegando a lugar algum. Mas é uma evolução imensa, é um aprendizado paulatino - também massante - contínuo, sem fim. Eu via pessoas passando em cursos mais fáceis que o meu e já achava um saco que pra mim tinha de ser mais difícil, que eu tivesse me esforçado o triplo do que tal pessoa que passou em sociais, mas que ela é considerada uma vencedora e eu uma derrotada nesses anos que não passei. Tudo isso é 5x pior pra quem presta medicina e eu torço muito pelo reconhecimento dos meus amigos, mais do que pela própria aprovação em si. Isso por eu saber que é o que está tão em falta quanto vagas nas universidades. Falta empatia, apoio, compreensão. 

Só passa quem não desiste. Só não desiste quem tem as condições: financeira e psicológica. E a condição psicológica precisa muito de ajuda externa. E desistir as vezes é o necessário para muitos. Também não é uma derrota. Se vocês conseguissem sentir na pele o que essas pessoas sentem, saberiam que estarem vivas já é o grande sucesso. Quando a última reprovação aconteceu pra mim e eu queria morrer a galera acha que "ai nossa, mas td isso por causa de um vestibular...", mas não. Se eu tivesse apoio e reconhecimento as cosias seriam mais simples. Eu não vou esquecer como meu pai me tratou com essa reprovação. Como me senti um peso inútil e que seria melhor morrer mesmo. E novamente: não ter a vaga seria o menor dos motivos que me levariam à isso. Se você tem algum amigo ou parente nessa saga de vestibular, APOIE. Aliás, ele sabe as outras opções que ele tem, não, ele não quer fazer concurso público; não, ele não quer um curso mais fácil; não, ele não quer fazer um pra ter emprego primeiro e aí depois fazer o que ele preferir etc etc etc...

Pois é, não adianta nada eu trazer só mais um post comemorando e esquecer tudo o que vivi pra estar aqui. Tenho que trazer esse outro lado pra vocês, tenho que tirar da cabeça de todo mundo que quem passa é melhor do que quem não passa. Ressaltar isso é muito mais importante pra mim do que ressaltar que EU passei. Pois ao mesmo tempo que eu merecia, conheço gente que merecia muito mais, e há muito tempo, uma vaga na universidade dos seus sonhos, no curso que sempre quis. Não vou nem entrar no âmbito de que né, poder estudar deveria ser uma garantia para todos, porém ainda longe de ser conquistado. 

Eu vou abraçar a vida universitária, mas nunca vou esquecer dessa fase de 4 anos tentando, nunca vou deixar de entender quem percorrer esse mesmo caminho, quem tiver esses mesmos objetivos. Obviamente não sei se estou mais feliz de ter passado, de começar uma vida nova ou de simplesmente ter passado essa fase finalmente. Eu quero pisar num cursinho de novo apenas pra apoiar os estudantes e abraçar meus professores.

Não aprendi apenas a estudar, mas amadureci muito também. Abri mão de várias coisas e infelizmente de pessoas: não porque eu quis, mas porque simplesmente algumas não entendem que não estar presente não significa que alguma coisa mudou. Muitos acham que simplesmente parei de conversar, que parei de sair e que por isso não sou mais amiga... Não posso fazer nada sobre isso. Posso apenas agradecer àqueles que entenderam e podem estar há anos sem falar comigo, mas torcendo por mim. 

O que será que tenho pra aprender pela frente? Quais serão meus projetos? Como vai estar minha criatividade? Midiálogos: onde vivem? Do que se alimentam? Como mandam curtas pra Cannes? Essas e outras respostas você descobre comigo aqui, ao longo dos próximos 4 anos :)


Beijos, Lariih 



Um Comentário

  1. Oi, Lari!
    Eu fico realmente muito feliz de saber que tu passou!
    Parabéns, futura midiáloga!
    Me avisa quando tu mandar um curta pra Cannes pra eu postar no FB e parecer cinéfila conceitual hipster! SIUAHDUISAHDU
    Beijão e boa sorte na facul!
    www.vultuspersefone.blogspot.com

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