Momentos epifânicos em stand by, o corpo pede, a mente se encarrega.

“Incrível como a lua está linda hoje. Fazia tempo que não reparava, notava, ou mesmo me importava com a existência desse satélite natural tão belo. Alias, não me lembro qual foi a última vez que parei pra aprecia-lo.
É, o mundo não para, e acabo não parando também...
Até me pergunto por que tenho uma varanda, se mal venho aqui pra apreciar a vista, o dia, a brisa, o nascer ou por do sol, as estrelas... As plantinhas de Sophie morreram... Que descaso meu, por algo que ela dava tanta atenção.”
Pareceu que na ausência deste cuidado uma lágrima de Daniel pudesse trazê-las de volta, mas elas continuam mortas. As plantas e Sophie.

Nuvens cobriram a grande lua cheia e brilhante, chuviscava e fazia frio; e o vento gelado provocava arrepios em Daniel, concluía-se que era melhor entrar. Ao fechar as portas da varanda, dirigiu-se à sala de estar e sentou-se ao piano. Com as mãos postas sobre o instrumento e olhos fechados,inspirara e começara a tocar. Uma melodia contínua e triste, que ganhava velocidade e tons aventurosos, como uma história, ao mesmo tempo em que os chuviscos frenéticos pareciam harmoniosamente fazer parte da composição e também companhia para o choro inaudível de Daniel.
Tons de algumas oitavas acima começaram a fazer parte da música, e os sons provinham de mãos delicadas e brancas, pertencentes à Sophie.

Daniel sabia que ela estava lá. Ambos os olhos castanhos-mel se entreolhavam enquanto a música não parava de tocar. Sophie sorria, Daniel não era capaz.  Quem dera pudesse eu, narrador, descrever o que se passava em sua mente e coração. O vestido branco que Sophie trajava refletia as poucas luzes ambientes e iluminava um pouco mais o cômodo.

Parecia que a música estava chegando ao fim, com a velocidade já mais lenta novamente, como no início. As últimas notas iam sendo tocadas nos tons graves e a mão esquerda gelada de Sophie segurava a direita de Daniel. Arrepiava-se.
Acompanhada da última tecla, Selou-se um beijo, e de olhos fechados ele pôde sentir que era real.
Silêncio. E segundos depois, abrira os olhos e se encontrava sozinho.
Daniel se levantou e por algum motivo a porta da varanda estava aberta novamente. Tinha parado de chover e a lua estava de volta onde ele havia visto momentos antes naquela noite.

“Incrível como ela estava linda hoje.”


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