Sempre senti que pessoas tocam músicas e músicas tocam pessoas, que o movimento produz sons e sons produzem movimento.
É uma troca. Uma Arte.
Eu faço arte. Mas quanto à essa arte, eu toco música.
Benefício este, que me vem em dobro, pois a música me toca ainda mais do que os outros seres, dispostos apenas à ouví-la.
Nota por nota, composição em harmonia... Não só podemos visualizar com os movimentos de um maestro e é isso que me traz aqui, o movimento. E conforme eu ja havia dito, sons produzem movimento.
Por que refletir tanta bobagem em algo que eu poderia resumir, por exemplo, falando deste lugar, sempre tão comum?
Talvez um ar de mistério pudesse fazê-lo mais belo do que realmente é, ou melhor, realmente É belo, mas também é digno de poesia, aquelas palavras bonitas, efêmeras, adornantes.
Testem, passem a mão em suas cortinas e sintam a leveza que trazem consigo e basta uma brisa e elas se revelam.
No fundo deste salão, me vejo refletida na parede espelhada, sentada nesse lindo piano de cauda e indagada. Não sei me expressar como as cortinas o meu enorme desejo de ser como as bailarinas. De sapatilhas, tules, polainas e colans, apoiadas no corrimão da parede oposta às janelas.
Como a música toca as bailarinas?
Deixando a poesia de lado, me sinto patética de até uma cortina ser melhor do que eu nisso. A dança é uma expressão de sí e eu não quero expressar desgosto numa tentativa trágica de reproduzir tais movimentos.
Toda manhã dessas terças e quintas-feiras, sentada no piano e tendo essas reflexões antes de tocar qualquer coisa que me faça imaginar um lindo espetáculo, qualquer coisa que me deixe travada e só me faça ouvir a música... ser tocado.
Benefício este, que me vem em dobro: Prazer e Angústia.