“05h05. Perdi o trem... Droga. Atraso? Falto? Já deve ser o que? A sétima vez que isso acontece?! É só ser pontual, Alice! Só isso e aí as coisas acontecem como tem de acontecer, na hora em que precisam acontecer.
Eu devo ser mesmo uma destrambelhada atrapalhada.
Cinco minutos...
Somam pelo menos oito das vezes em que me olhei no espelho por uns vinte segundos arrumando o cabelo e mais, sei lá, dez segundos de ter colocado meias de pares diferentes e visto isso um minuto depois. Além de o molho de chaves de casa possuir quatro chaves e pra variar, testar as quatro sem perceber que pegou uma mesma chave duas vezes e então, tenta mais quatro vezes para acertar apenas na última. Talvez eu não tenha sorte mesmo! Com esse tempo desperdiçado e mais uma moça ter me pedido uma informação no caminho devem completar esses cinco minutos.”

- Cigarro? – Ofereceu um senhor sentado no banco da estação.
- Não fumo. – respondeu Alice.
- Deveria; funciona pra gente estressada e desculpe-me ter notado que a senhorita está.
- Oras, mas que impertinência! Com licença. –  disse Alice com intuito de afastar-se do homem, enquanto este ria baixo, mas debochadamente. – Qual é a graça?!
- Oras, ao menos que desista de um dia inteiro que você tem pela frente, espere o próximo trem. Tem outro daqui cinco minutos, às 05h15. São só quinze minutos de atraso.
- Já estourei minha cota de atrasos.
- Hm, entendo.
- “Cinco minutos”... Mas que droga são cinco minutos! Estaria tudo bem se não fossem cinco minutos.
- Estamos conversando à cinco minutos, realmente... Que droga são cinco minutos!
- E quem é você?
- Não torne esses cinco minutos e também os próximos menos inúteis por saber o meu nome.
- Tem razão. É realmente irrelevante pra mim.
- Afinal de contas, cinco minutos não mudam o seu dia, não é mesmo?
- Sob que direito pensa que podes falar assim comigo? Aliás, sob que direito pensas que pode se dirigir a mim?
- Alice, só te ofereci um cigarro.
- E eu disse não. Mas a conversa não parou por ai e me arrependo de não ter te dado as costas, Senhor Inútil, já que não me disse seu n... Como.... Eu não te disse que me chamava Alice.
- Alice, você ignoraria cinco minutos nos tempos de hoje e ainda acha que qualquer ação ocorrida ou palavras ditas poderiam ser ignoradas, então ignore o fato de eu saber o seu nome.
- Mas me incomoda! Tem alguma coisa acontecendo! Quem diabos é você e de onde me conhece?
- Nem mesmo você saberia responder essas perguntas.
- Mas é por isso que perguntei! Só pode estar de brincadeira comigo, não é?
- 05h12, não parece ser hora para brincadeira. Daqui três minutos é hora do chá.
- Nossa, super interessante!! E precisa de hora pra tomar chá? – respondia ironicamente.
- Na verdade, por conta de uns atrasos ele acontecerá as 05h15.
- Esse mundo vai me deixar louca! Sua maior preocupação no momento é ter hora para tomar chá?! Pelo amor de Deus! Eu só posso estar enlouquecendo mesmo!
- Todos somos meio loucos... Tá vendo aquele homem ao lado da plataforma? O de chapéu?  Ele sempre vem para o chá, e costuma dizer que as pessoas loucas são as melhores.
- Nossa, isso me conforta muito, obrigada heim?!
- É, você pode estar ficando louca.


Alice amarrou a cara, andava impaciente de um lado para outro, ainda muito estressada por ter perdido o trem das cinco horas e por toda essa conversa louca e esquisita.


- O trem já vai chegar, falta um minuto. – Comentou o homem.
Alice não o respondia mais.
 “Que eu entre no trem e sejam cinco horas. Deve ter sido um sonho de cinco minutos, dos mais bizarros que já tive. Não deve estar acontecendo de verdade.” Pensava consigo.
- As coisas acontecem independentes da sua realidade, Alice. – Comentou aquele senhor sem ser chamado.


Em um gesto de fala a indignação fez a boca de Alice se fechar, sem pronunciar nada sobre o que acabara de ouvir.
- Hora do chá. – Ele anunciou.
E o trem chegou e todos embarcaram.



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