Esse post eu escrevi à mão dia 21 de março, segunda-feira.

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O Segundo Abraço

Hoje é o dia do segundo abraço, aquele que vale por 2 e aperta não só os braços ao redor das costas, mas também a garganta. É físico o nó que a gente sente, é estranho e incerto. Incerto quanto à se há algo a ser dito, se é choro sendo engolido... Mas que há um sentimento que machuca, isso é verdade.

Por ter nascido no dia do aniversário dele, a piada clássica é sobre a economia de fazer uma festa só. Mas a minha piada foi a primeira frase que você leu; da economia de abraços. Se eu não tivesse nascido em 21 de março, aí seriam 5 abraços por ano, mas por conta disso, então são 4. Ano novo, nosso aniversário, dia dos pais e natal. 

Todos doem igual. São rápidos, duram uma frase ("feliz aniversário, tudo de bom, blablabla" "feliz natal, muita paz, blablabla"), mas como sei sempre quando eles vão acontecer, então há uma ansiedade, tensão. Deve estar esquisito pra vocês eu não estar descrevendo um abraço como porto-seguro, conforto... E pensar que eles são um dos motivos pelos quais eu vim parar aqui na blogosfera. Aqueles apertos na garganta eu sempre aliviei na escrita, desde lá pelos meus 12 anos, eu acho. Hoje faço 21. 

Há quase 10 anos eu relatava a minha pré-adolescência como um diário e isso sempre foi como uma terapia, já falei pra vocês disso recentemente. Eu relatava o quanto eu era presa na minha casa, pelos meus pais super-protetores, já fazia metáforas sobre como eu era uma plantinha de escrtitório, que crescia até alguém cortar de acordo com o gosto dela, que tomava sol quando deixavam, que regavam quando lembravam... ou quando me viam com aquela aparência murcha... Convenhamos: coisas normais para pré-adolescência e adolescência. Mas esse período resultou na enorme indiferença, frieza e distância entre nós dois. 

Eu não sei como começou de verdade, mas eu chuto que isso é fruto de um pai que não esteve preparado para o crescimento da filha. Se fecho os olhos, eu lembro de ouvir o portão do carro abrindo quando ele chegava do trabalho e de sair correndo com minha irmã para esperá-lo na porta, em cima do sofá, pra alcançar o pescoço dele pra poder pendurar e abraçar de verdade - "Papai chegou!".
Na minha infância era tudo perfeito, meu pai além de brincalhão era um professor e me ensinava de tudo antes de eu ir pra escola: desde a minha alfabetização até as primeiras operações matemáticas. Fez pra mim pipas, carrinhos de rolemã e até mesmo um caixão para um passarinho que eu tive e que morreu por volta dos meus 9 anos. 

Então abro os olhos e está tudo diferente hoje, esteve diferente ao longo desses 10 anos. Diferente do comercial de manteiga, diferente da família do chefe, diferente da família dos meus amigos... E eu já tentei reverter isso muitas vezes, sofri muito tentando. Inclusive, em um desses dias que eu desabafava no meu caderno sobre minha relação com ele, arranquei as páginas que contavam tudo o que eu sentia e pensava e dei à ele. Como se fosse uma carta. Ele disse que um dia iriamos conversar sobre aquilo, mas isso já tem 3 anos... e até agora nada. Me pergunto se terá um momento ou se esqueceu. 

Hoje eu já não me importo mais, eu cansei. Ele é o cara que por enquanto me sustenta, mas que eu não vejo a hora de não sustentar mais. Quero mesmo é ser independente, sair da casa dos meus pais, ter a minha vida, meu dinheiro e visitá-los de vez em quando. Tá, ok. eu disse que não me importo, mas na real eu tenho esperanças que a distância provoque saudade, interesse e conversas mais longas do que "dia" (seria um "bom dia").  Acho que talvez reduza ainda mais os abraços do ano...

Apesar dessa relação, meu pai é uma pessoa que tenho orgulho. Um homem de bem, que veio de uma família muito simples e aproveitou boas oportunidades pra subir na vida. Investe o que pode na família em condições de saúde, educação, conforto.. Embora muitas vezes tenha mão fechada, creio que isso é devido aos seus planos pro futuro, e ele não está errado em pensar e planejar isso. Eu combino esse orgulho com gratidão, pois embora falte afeto, nunca faltou mais nada. Tenho condições de acreditar no meu futuro e ter uma boa vida por conta do investimento que ele teve comigo. Uma coisa sobre a qual eu escrevia muito é sobre o quanto eu quis deixá-lo orgulhoso e parece que nunca consegui. Minha chance é passando na Unicamp, coisa que ele sempre quis pras filhas dele, porém... depois de 3 anos de cursinho, tenho medo que vá virar mais um "não fez mais do que a obrigação".  

Falei hoje do abraço porque é o que vivenciei hoje e precisei desabafar. Mas se tem uma coisa que eu não consigo falar é do quanto eu queria ouvir que ele me ama e sente orgulho de mim. 






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